quinta-feira, 28 de julho de 2011

O fim dos olimpianos


Um dia, Zeus encontrou, na cabeceira de sua cama, um bilhete. Reconhceu imediatamente a grafia de sua esposa-irmã Hera. Havia ali uma frase curta: "Fui embora. Adeus.". Ao passar os olhos por aquela linha, ribombou, nos céus, os mais altos trovões e choveram raios em todas as direções. Para Zeus, o motivo do abandono era claro: sua mulher se cansara de suas inúmeras traições. Conhecia o gênio da esposa. Sabia que ela era capaz de matar, perseguir, seqüestrar e atormentar suas amantes e seus filhos ilegítimos, mas jamais passou por sua cabeça divina que Hera abandonaria o Olimpo. Consternado, mandou chamar Hermes e ordenou que este encontrasse sua mulher e a trouxesse de volta. Horas depois, o deus-mensageiro retorna sem sucesso. Não encontrara a divindade. Zeus, então, subiu no cume do monte, do mesmo lugar em que costumava observar as belas mortais, apurou a vista e varreu a face da terra com o olhar. Não havia sinal algum da mulher. Consternado, solicitou a presença de seu irmão Hades. O senhor do mundo inferior estacionou a bela carruagem puxada por cavalos negros em fila dupla, tamanha era a urgência do chamado, tratando de deixar o pisca-alerta ligado, com receio da justa Atena aplicar-lhe uma multa. Perguntado se, por ventura, a irmã-cunhada se encontrava no submundo, respondeu que não. Não havia sinal da deidade sequer no Tártaro.

O rei dos deuses pediu uma audiência geral. A extraordinariedade do pedido era tamanha, que até as fúrias e as moiras estavam por lá, com o manto do destino, a fim de procurar, no entrelaçamento dos fios, o paradeiro da senhora do Olimpo. Cloto, Láquisis e Átropos não encontraram o menor vestígio de Hera. Zeus, então, ordenou imediatamente a suspensão de todas as atividades a que os deuses estavam submetidos e disse que tratassem de encontrar a esposa a qualquer custo.

Naquele dia, o mundo parou. Deméter suspendeu as colheitas, Atena de olhos glaucos não presidiu julgamentos, Apolo não passeou na sua carruagem solar, que comprara de Hélio tempos antes a um preço de bagatela: segunda mão, único dono. Mesmo Pã, que não era bem visto entre os olimpianos, participou ativamente da busca. A virginal Ártemis pôs todos os animais da floresta para farejar algum possível rastro da deusa, em vão, indisponibilizando, assim, a caça aos homens. A mando de Zeus poderoso, Hefestos forjou uma imensa lupa com a qual procurava minunciosamente sua querida mãe por sobre a face da Terra. Ares e Afrodite, que viviam em constante fornicação precisaram atender o chamado. Naqueles dias, portanto, não se fez amor e tampouco as guerras. Mediante todos esses esforços inúteis, foi enviado, por Hermes, mensagens aos deuses de outras terras, a fim de que avisassem imediatamente ao Olimpo sobre o paradeiro de Hera. Os panteões egípcio, hindu, africano e persa se prontificaram imediatamente em auxiliar na busca. Infelizmente, sem sucesso algum.

Amofinado em seu trono celestial, o cronida Zeus estava mortificado de tristeza e frustração. Decidiu, assim, tomar uma medida enérgica: deixaria ele mesmo o Olimpo e passaria a buscar incessantemente sua esposa de olhos bovinos. Preparou-se para a longa viagem: armou-se com os raios que Hefestos fizera, armazenou grande suprimento de vinho servido pelo belo e efeminado Ganimedes, vestiu sua melhor túnica bordada por sua filha querida Atena e partiu. Passaram-se anos e anos de busca incansável pelos mais remotos lugares do planeta. Conta-se que, por esses tempos, Zeus quase descobre as Américas. Não tinha jeito, era preciso regressar e esperar que o coração da senhora do Olimpo se acalmasse. Com esse pensamento, a divindade retornou.

O lugar que o cronida reluzente encontrou estava estranho. No caminho para o Olimpo, observou silêncio estranho e quietude assaz. Isso não era comum principalmente depois que Dionísio, o deus do vinho, passara a habitar o panteão. Foi então que, com pânico nos olhos, Zeus avistou uma figura desconhecida sentada muito querida em seu trono.

- Quem é você e o que faz aqui?
- Sou Jesus de Nazaré, rei dos reis e senhor dos senhores. - respondeu serenamente a figura.
- Quem te deu permissão de sentar no trono do deus dos deus?
- Em primeiro lugar, colega, EU sou o deus dos deus, apesar de ser o único deus. Por excelência, este trono é meu. Meu pai o deu a mim.
- E quem é seu pai, por acaso? Não lembro de algum irmão ou filho meu parir pessoa tão orgulhosa.
- Olha, camarada, aí você complicou a conversa. Meu pai sou eu, na verdade. O Espírito Santo, que também sou eu e meu pai, engravidou, engravidamos, melhor dizendo, minha mãe, e eu nasci. Eu sou meu pai, entendeu? Pode falar diretamente comigo, então.
- Quanta petulância! - vociferou Zeus.
- Petulância ou não, este trono agora me pertence. Já enxotei toda aquela mundiça barulhenta que morava aqui antes. E também não adianta ir para o mundo inferior, que eu também desci até lá e dei uns bons cascudos num homem mau-humorado. Sou dono de lá também. Olha aqui a chave da casa para provar. O lugar já está reservado para Satanás, e o contrato só vencerá daqui a uns milhares de anos. Se quiser, espere na fila.

O homem barbudo falava com tanta autoridade, porque falava, segundo ele, por três, que Zeus não teve alternativa a não ser girar sobre os calcanhares e ir embora. E assim terminou o reinado de todos os deuses gregos sobre a terra.